225 Anos da criação da Paróquia N. Sra. da Expectação (do Ó) (1796-2021)

Hoje celebramos, como comunidade, os 225 anos da criação da Paróquia Nossa Senhora da Expectação (do Ó)! Um dia muito especial para nós, no qual revemos nossa história, contemplamos os momentos especiais e também os de dificuldades, e verdadeiramente agradecemos a Deus pela sua ação durante todos esses anos! Leia um pouco mais sobre a nossa história, descrita por Benedito Camargo:

 

ORIGEM

 

Quem observa a paisagem, no alto da colina, sente algo indescritível, uma paz penetrante e silenciosa, aqueles enormes casarões, de construções anteriores ao século XX, que permeados às novas construções, criam um misto de encantamento, nostalgia e progresso, alinhados no entorno da imponente matriz da Freguesia do Ó, sede da Paróquia Nossa Senhora da Expectação do Ó. Descrever esse lugar, que lembra uma cidadezinha do interior, exige levar em conta o tempo e a história de seu passado, inserido na grande história universal, nas múltiplas circunstâncias, que originam os lugares da terra.

 

A Paróquia Nossa Senhora do Ó, como hoje é popularmente conhecida, situada na Região episcopal Brasilândia, da Arquidiocese de São Paulo, na enorme metrópole, São Paulo, passou por muitas instâncias dentro da Geografia política, desde a chegada dos portugueses ao Brasil na virada para o século XVI.

 

Partindo de Portugal, desde a primeira missa, até 1551, todo o Brasil pertencia à Diocese de Funchal. De 1551 até 1575 a Diocese era Salvador. De 1575 até 1676 a Diocese passa a ser o Rio de Janeiro. Finalmente em 6 de dezembro de 1745 foi criada a Diocese de São Paulo, cuja sede central era denominada Freguesia da Sé.

 

COMO TUDO COMEÇOU

 

O lugar teve início em 1580, quando Manuel Preto, um bandeirante, se instalou numa fazenda, na Vila de São Paulo, após 26 anos de sua fundação. Manuel Preto e sua mulher, Águeda Rodrigues, após obterem despacho favorável em 29 de setembro de 1615, ao requerimento de provisão que fizeram, pelo motivo de não poderem cumprir suas obrigações religiosas na vila, juntamente com sua gente. Além da grande distância, e dos perigos e obstáculos do percurso, havia um caudaloso rio, que assustava até os silvícolas em suas canoas de tronco de árvore, quando tinham que transpor da vila de São Paulo de Piratininga para as “bandas d’além do Anhamby”. No alto do morro muitas árvores de embaúba prata com sua coloração azulada que refletia à luz e toda a montanha ganhava cor, por isso a identificavam como “colina azul”, onde iniciaram a construção de uma capela. Em 15 de agosto de 1618, estando já concluída a construção da humilde capelinha em honra da Senhora da Esperança, Águeda Rodrigues e seu marido, passaram a escritura de doação, “athe o fim do mundo”, do “cítio do jaragoa” e todos os bens do casal, vinculando tudo à dita Capela, que teve ao seu redor, a formação do pequeno povoado.

 

O agregamento da quarta vogal ao nome do lugar se deu a partir do costume de cantar as Antífonas de vésperas que a Igreja entoa dos dias 17 a 23 de dezembro, e na localidade tinha relação com Nossa Senhora da Esperança, ou da Expectação, título dado a Maria que está na expectativa da chegada do Menino Deus. São os vocativos; Ó Sabedoria… Ó Adonai… Ó raiz de Jessé… Ó Chave de Davi… Ó Sol nascente… Ó Rei das Nações… Ó Emanuel…!

 

Em 1794, em substituição à antiga capela, já em ruínas, foi inaugurada uma nova igreja dedicada à Virgem do Ó, construída noutro espaço, e se tornou Paróquia pelo Alvará de Constituição de 15 de setembro de 1796, concedido pela Rainha de Portugal dona Maria I, que sob o comando de dom Mateus de Abreu Pereira, o quinto bispo do lugar, aconteceu a divisão do Povo de Deus, em três porções. Ficavam assim constituídas na Vila de São Paulo; Freguesia da Sé, Freguesia da Penha e Freguesia de Nossa Senhora do Ó. Foi, então, no “Padroado”, regime de parceria Igreja-Estado, que se tornam autônomas na nova Diocese, duas novas instâncias jurídicas, sendo emancipadas e ganhando vida própria. A nomenclatura “Freguesia”, é proveniente de uma deformação ou da má compreensão do termo “Filii Eclaesia”, aportuguesado; “Freguesia”, que é uma porção do Povo de Deus, – “Filhos da Igreja” – essa é uma forma de pertença, hoje denominada de “Paróquia”. Nesse novo prédio construído pelo padre Franco da Rocha, permaneceu a sede da Paróquia até o dia 22 de setembro de 1896, quando ao tentar espantar com fogo, um enxame de abelhas, instaladas na torre, o sacristão a incendiou. Naquela noite a multidão acorria com baldes d’água para debelar o fogo, inimigo voraz, que consumiu tudo, muito mais rápido que a ação e a vontade dos moradores. Quanto sofrimento e dor, e daquele fato surgiu uma força, e dessa união resultou o planejamento e a construção da nova Matriz.

 

Na manhã seguinte ao trágico acidente, daquele fogo que devorara a igreja, já havia a preocupação de reconstruir novo espaço de fé, pois aquele povo necessitava manter um lugar de encontro com Deus e suas práticas devocionais. Em 1897 por iniciativa de João da Silva Machado e apoiado por José Romão Martins, habitantes do local, foi marcada uma reunião com outros moradores, onde organizaram a Comissão encarregada para obter fundos para a construção da nova matriz, cuja pedra fundamental foi lançada no dia 9 de janeiro de 1898. Construído sob a coordenação do pároco, padre João de Freitas Monteiro de Vasconcelos, o atual prédio foi inaugurado em 27 de janeiro de 1901, com uma missa presidida pelo Cônego Esequias Galvão de Fontoura. Graças ao trabalho dos habitantes do lugar a construção foi erguida em três anos, tempo recorde para a época. Destaque nessa tarefa foi o trabalho dos animais utilizados na busca da água, trazida do Rio Tietê, que possibilitou a construção do novo prédio. Mulas foram utilizadas. Como é sabido, esses muares, orientados em processo repetitivo, passam a executar as tarefas, sozinhos, e assim, iam e retornavam do rio sem condutores, bastando ter alguém que colocasse a carga ao lombo e quem descarregasse.

 

VIDA E MISSÃO DA COMUNIDADE

 

Desde a chegada de Manuel Preto e sua mulher, um pequeno povoado foi sendo estabelecido e os habitantes se reuniam na pequena capela, onde dona Águeda Rodrigues tinha um oratório dedicado à Senhora da Esperança. Esse espaço tornou-se lugar de encontro e de oração nas práticas devocionais dos seus habitantes. Ter um lugar para oração possibilitou o aumento da Fé e da Esperança do povo. A Caridade se espalha tornando aquele lugar o centro de partilha e solidariedade. Com a criação da Paróquia em 1796, a comunidade cristã se desenvolveu e frutificou com a celebração da Liturgia e administração dos Sacramentos.

 

Hoje, a Paróquia Nossa Senhora da Expectação do Ó, com suas Pastorais e Serviços, cumpre sua missão de servir o Povo de Deus do lugar, a partir do anúncio da Palavra de Deus e administração dos Sacramentos da Igreja. É o lugar de encontro em busca da Verdade e da Paz, do Acolhimento, de Partilha, do Convívio existencial e de Espiritualidade. Uma Comunidade unida e atenta, que toma sempre a iniciativa para resolver os problemas do povo da Região.

 

Nascida à sombra da Cruz, debaixo do olhar de Maria, Senhora das Dores, em 15 de setembro, a Paróquia Nossa Senhora da Expectação do Ó, comemora 225 anos de sua fundação.

 

Veja algumas fotos que mostram a nossa história:

 

 

Capela.

 

Colina azul.

 

Ponte sobre o Rio Tiête.

 

Antiga Matriz.

 

Dia da Inauguração da Matriz.

 

Paróquia Nossa Senhora da Expectação do Ó em 1980.

 

Paróquia Nossa Senhora da Expectação do Ó atualmente.

 

BIBLIOGRAFIA

 

 

 

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BARRO, Máximo, História dos bairros de São Paulo, Vol. 13, Nossa Senhora do Ó, São Paulo, P.M.S.P. – Sec. Mun. de Cultura, 1977.

Con. Paulo Florêncio da Silveira Camargo, A Instalação do Bispado em São Paulo e seu primeiro bispo, Vol. 1.

SOUZA N. (org.)  Catolicismo em São Paulo – 450 anos de presença da Igreja Católica em São Paulo, São Paulo: Paulinas, 2004.

Teodoro Sampaio, São Paulo de Piratininga nos fins do século XVI, R.I.H.G., São Paulo, Tomo IV.

ZÍNGARI, N. R. e outros, 200 Anos de Paróquia Nossa Senhora do Ó – 1796-1996, São Paulo, Bassan, 1996.